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Como viabilizar um super-herói no cinema brasileiro?

  • pdlmarques
  • 11 de jul.
  • 3 min de leitura

Na era do streaming, dos blockbusters e da disputa por atenção, pode parecer impossível imaginar a produção de um filme de super-herói brasileiro com orçamento extremamente limitado. Mas foi exatamente essa a realidade do curta-metragem O Menino das Estrelas, realizado pela Colateral Filmes e dirigido pelos irmãos Christofoli.

Durante minha pesquisa de mestrado, uma das questões que mais me instigava — e que, de certa forma, ainda me acompanha — era compreender como se dá a gestão estratégica de recursos na produção dos efeitos visuais de um filme, seja curta ou longa, de ficção científica no contexto brasileiro.

E a resposta, como tantas boas histórias, envolve criatividade, colaboração e um profundo entendimento do que realmente significa fazer cinema — com tudo o que temos, e não com tudo o que gostaríamos de ter. Como disse Cacá Diegues: “A gente nunca faz o filme que quer, nem o filme que pode. A gente faz o filme que consegue.” Mas, no fim das contas, será que conseguimos — mesmo assim — fazer um filme de super-herói?


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O desafio de produzir o impossível

Vivemos em uma indústria marcada pela superprodução. Só para dar um contraste: os filmes "Vingadores: Guerra Infinita" e "Ultimato" somaram mais de R$ 3,4 bilhões de orçamento. Isso é mais do que o Fundo Setorial do Audiovisual investiu em toda a produção nacional durante uma década. Enquanto isso, produtoras independentes do sul do Brasil operam entre planilhas, troca de favores, escassez de mão de obra técnica e criatividade no limite. Isso sem contar com a necessidade de trabalhar em outros mercados (publicitário, como exemplo) para garantir o capital de giro e a sobrevivência entre safras.

Foi nesse cenário que surgiu “O Menino das Estrelas”, com um orçamento modesto, mas uma ambição estética que ousava dialogar com o imaginário dos grandes heróis. Não como imitação — mas como reinvenção.


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O papel da gestão (e da imaginação)

O que descobri no processo de pesquisa — que envolveu entrevistas em profundidade, análise documental e observação — é que o sucesso da empreitada passou por algo muito maior do que softwares e efeitos: passou por planejamento estratégico baseado em recursos, um modelo que considera o que a empresa tem antes de prometer o que ela quer.

Desde a pré-produção, o artista de VFX foi integrado à equipe. Participou de reuniões criativas, sugeriu soluções técnicas, antecipou limitações e — o mais importante — colaborou para transformar ideias em planos viáveis. A lógica foi invertida: não se pensou primeiro nos efeitos que seriam incríveis, mas nos efeitos que seriam possíveis — e que ainda assim impressionassem.

Houve um casamento entre o realismo da produção e o desejo da direção. Storyboards detalhados, referências visuais compartilhadas, ajustes finos no roteiro e, sobretudo, um pacto entre os departamentos de arte, fotografia e efeitos. O resultado foi mais que técnico — foi artístico.



O poder da colaboração

Quando falamos em “efeitos visuais”, muitas vezes esquecemos que, por trás de cada frame, há dezenas de decisões silenciosas. E muitas delas são invisíveis aos olhos de quem assiste.

Em “O Menino das Estrelas”, os efeitos não foram apenas um recurso estético. Eles foram instrumentos de linguagem, carregando significados, tensões e climas narrativos. Um campo de força, uma lata voando, uma explosão energética — todos esses elementos foram produzidos com base em diálogos interdisciplinares e decisões que equilibraram o orçamento com a narrativa.

O filme final teve 21 planos com efeitos visuais, entre mais de 200 planos montados. 10 prêmios em festivais, milhares de visualizações no YouTube, presença em mostras escolares e streaming na Amazon Prime e Sulflix. Mas o número mais relevante talvez seja outro: 98% do que os diretores imaginaram foi realizado. E tudo isso com um orçamento de R$ 60 mil.


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O que isso nos ensina?

Que fazer cinema no Brasil é, em si, um ato de resistência. Mas não precisa ser um ato de martírio.

A produção estratégica de efeitos visuais no cinema independente precisa ser compreendida como um processo de construção coletiva, em que direção e produção se tornam ambidestras: o diretor também é gestor; o produtor também é artista.

E que talvez o segredo não esteja em esperar o orçamento ideal — mas em planejar o uso ideal do orçamento que temos.

Talvez a maior lição de “O Menino das Estrelas” não esteja no seu protagonista de poderes cósmicos, mas na equipe por trás dele — que provou que nenhum efeito visual é mais potente do que o da colaboração real entre pessoas criativas.



Se você trabalha com audiovisual, produção cultural ou efeitos visuais — ou se apenas acredita no poder da arte em tempos difíceis — me escreva. Vamos conversar sobre como criar impacto com inteligência, sensibilidade e, principalmente, com propósito.

Assista aqui o filme:



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